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Crítica | “Simonal” entra para clube das boas (e honestas) cinebiografias
Chega aos cinemas brasileiros, nesta quinta-feira (08), mais uma cinebiografia musical: o cantor da vez é Wilson Simonal, o Rei da Pilantragem.
Dirigido por Leonardo Domingues, também responsável pela montagem do documentário Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei, de 2008, o filme mostra, com a mesma malemolência malandra do cantor, altos e baixos de sua carreira, sendo bastante honesto em relação aos erros cometidos pelo artista.
Assim como a cinebiografia Bohemian Rhapsody, sobre o Queen, a produção sobre o cantor brasileiro tem um recorte bastante claro: a carreira de Simonal durante sua ascensão, até a decadência. Não é retratada, por exemplo, a infância do músico. O filme já começa com um ótimo plano sequência que nos leva a uma surpresa: em meio à expectativa de descobrir quem cantaria em uma festa com grandes nomes da música brasileira, a recepção hostil a Simonal, já em um relacionamento conturbado com a classe artística.
Assim, quase como uma retrospectiva que levou àquele momento, o longa retoma o sucesso da carreira Simonal, nada comum para um jovem negro da favela, principalmente à época, em meio à Ditadura Militar, e sua vida pessoal, com o conturbado casamento com Tereza (Isis Valverde), em uma vida repleta de gastos e mordomias. Porém, a “lua de mel” do cantor com o público durou consideravelmente pouco, após ele pedir ajuda ao DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) para fazer com que um ex-contador de sua empresa confessasse ter roubado dinheiro.
O meio encontrado pelo DOPS para que a confissão fosse realizada foi a tortura, que logo chegou à imprensa e manchou, de forma quase permanente, a reputação de Simonal, fazendo com que muitas pessoas o considerassem um delator da ditadura.
Uma história muito intrigante merecia ser contada em um filme à altura, e “Simonal” cumpre o objetivo com facilidade. Em meio à ótima atuação de Fabrício Boliveira, que protagoniza o cantor, são usadas algumas imagens verdadeiras que marcaram a carreira do artista, como a histórica apresentação no Maracanãzinho, em 1969. Tal técnica poderia ter transformado a cinebiografia em algo mais próximo a um novo documentário, o que não seria positivo. Porém, as imagens foram usadas de forma bem pensada, contribuindo ainda mais para o sentimento de nostalgia à época e à carreira, hoje, pouco valorizada de Simonal.
Desta forma, o filme aproveita, também, para trazer uma importante reflexão sobre o racismo velado no Brasil e a relação disso com a abrupta decadência da carreira do cantor e na rejeição do público a qualquer tentativa de retratação.